Depois de um mês de correria, eu e minha mãe conseguimos juntar todos os papéis que o consulado espanhol pediu. A última coisa que faltava eram meras cópias, Xerox de tudo que tínhamos juntado.
Voltando do centro, era um fim de tarde e minha mãe e eu resolvemos fazer essas cópias na UFPB. Muito calmamente estacionei em frente a Central de aulas (CA) do CCHLA onde há várias xerox e lanchonetes. Sentamos calmamente numa das lanchonetes e organizamos todos os papéis, numa disciplina que mainha insiste em ter.
Então, com os papéis na mão nos dirigimos ao quiosque mais próximo. Nesse pequeno espaço que não chega nem a dez metros deixei a carteira de identidade de mainha cair no chão, não tínhamos visto, mas uma gentil transeunte viu, pegou e nos devolveu. Quando chegamos a xerox começamos a entregar para a moça e ela foi copiando, copiando até que minha mãe disse, agora me dê os meus contracheques. Eu procurei, mas não encontrei e disse:
- Não está aqui, a senhora deve ter pegado
- não, eu entreguei a você, junto com todos esses outros documentos
- impossível, não está aqui, já olhei duas vezes
Resolvi verificar se tinha caído no carro, apesar de nos lembrarmos que tínhamos visto os contracheques quando organizamos tudo na mesa da lanchonete. Começou a bater o desespero e procuramos por todo lado, no meio do caminho de um lugar pro outro (todo o grande percurso 10m), nas mesas da lanchonete e nada. Mainha pediu ajuda ao moço da lanchonete que saiu procurando conosco. Tentei manter a calma e disse, não tem problema, mesmo tendo que entregar esses documentos até amanhã a senhora pode pegar a cópia desses contracheques de manhã cedo e entregamos a tarde. Então veio a revelação bombástica, não tinha como conseguir a cópia desses documentos, ou eram aqueles, ou tudo estaria perdido. Nesse momento me veio a cabeço: seis malditos papeizinhos acabaram de destruir meu sonho de morar na Europa.
Ligações e mais ligações mainha descobriu que tinha como conseguir a cópia dos dois últimos, mas os demais teriam de ser encontrados, senão, realmente tudo estaria perdido. Eu já estava dentro do carro, derrotado, já não havia mais esperança. Mainha rezava e não perdia a esperança. Então, num súbito momento de fé, ela disse: - vou procurar mais uma vez!
Eu disse tudo bem, mas permaneci no carro. A essa altura mainha já tinha dado o número do nosso telefone ao homem da lanchonete para o caso dele encontrar os benditos. Observei de longe a perseverança de mamãe ao procurar atrás dos quiosques, até que vejo um sorriso de alegria no rosto dela. Ela se abaixa, pega um papel pequeno e comemora. Não precisava de outro sinal, sai correndo e de repente começamos a encontrar todos, uma a um. O último foi encontrado por mim quase embaixo de um carro a uns 100 metros do local onde nós estávamos.
Foi desesperador, mas conseguimos recuperar todos quase uma hora depois do início do terrível desaparecimento. Falamos com o moço da lanchonete e ele abriu aquele sorrisão de satisfação por nós termos encontrado todos. Tiramos as cópias e voltamos pra casa com a certeza de que nada mais poderia impedir a minha ida à Espanha, se os contracheques fujões não puderam nada mais pode!
Então, fica a dica: Sempre fique de olho nos contracheques!