terça-feira, 28 de outubro de 2008

Aún aquí


Era uma vez um jovem que achava que quando chegasse no velho continente tudo ia ser diferente. Que ia poder fazer tudo que sempre sonhou da maneira que mais lhe convinha, porque ele poderia ser quem quisesse. Porque na Europa tudo é maravilhoso e deliciosamente diferente. Novos ares, novos conceitos, novas identidades, novas atitudes. Bem, tudo é diferente, mas o jovem só não contava com um incômodo empecilho: a personalidade é algo que não muda, a sua verdadeira face, aquilo que você é por dentro, nunca será diferente, nunca vai mudar. Você pode fazer qualquer coisa, aparentemente pode ser alguém diferente, mas lá dentro é exatamente aquilo que sempre foi.


Tudo que escrevi pode ser uma grande bobagem, pode não fazer nenhum sentido, e pode ser um saco. O que importa é que percebi tudo isso quando me dirigia ao metrô numa bela tarde de outono, sob um sol suave e uma brisa que fazia os 18 graus parecerem 15. Eu percebi tudo isso em Valencia, na Europa! Ou seja, o sonho não acabou.
Perdão pelo post tão pequeno, mas eu tinha que dizer isso, e só tinha isso pra dizer. Até a próxima!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Coimbra em Diálogos


Cheguei bem cedo, o relógio ainda não marcava 6 da manhã. Liguei para Amanda e ela disse que já estava indo me buscar. Lembram de Ana Sofia? A portuguesa do trem que vinha de Madrid? Sabendo que Amanda estava a caminho aquela hora da manhã disse logo: - que amiga fixe! Nessa hora eu pensei: “é esses são os brasileiros”. Claro, dando todos os créditos a gentileza de Amanda.

Esse deveria ser o post sobre a viagem de Coimbra que ocorreu entre os dias 9 e 13 de outubro. Eu deveria descrever a cidade, as peculiaridades e todos os mínimos detalhes, exatamente como fiz no primeiro parágrafo, mas já faz muito tempo eu vou tentar fazer algo diferente. Ok! continua sendo um post sobre Coimbra, mas de alguma forma tentarei não ser convencional.







- Putz, ta frio. Deve ta fazendo uns 15 graus, talvez menos. E Amanda ainda vai demorar uma meia hora. Se bem que é melhor do que se eu estivesse suando. Ei, que legal, tá saindo fumaça da minha boca...hehehe...primeira vez na europa. ¡joder! mas também não precisava estar tão frio. Que merda, já to xingando em espanhol, faz nem um mês que eu to aqui.
- Ramon?
- hey! Pensei que ia demorar mais!
- peguei um táxi.





- Pronto, tu vai poder ficar aqui na sala, vou botar um aviso pra ninguém te incomodar.
- “Favor não incomodar, Ramon está a dormir.”
- a dormir? Hehehe
- é, os portugueses não usam gerúndio. Pode dormir até a hora do almoço.
- blz, até mais tarde.
- Como eu vou conseguir passar três dias dormindo nesse sofá?





- Em um dia tu vai conhecer Coimbra, é uma cidade muito pequena, sem muita coisa pra ver. O único problema são as ladeiras, muitas ladeiras.
- Eu to percebendo, kramba, essa são as monumentais de Coimbra?
- ¡joder!





- Por favor, qual é o autocarro que passa em Coimbra-A?
- É o 29, mas tem que ir para aquela outra paragem.
- obrigado





- Vamos pra Associação dos estudantes, tem cerveja a 0,50 céntimos.
- Sério? 0,50 céntimos? Em Valencia mais barato que paguei foi 2,50€.
- Ah, e depois a gente vai beber shots!
- Shots? O que é isso?
- Você vai ver.





- 1 shot por favor
- Do que você quer?
- Tequila
- 1 euro
- É hoje que eu fico bêbado!





- Qual é a bebida que você mais gosta?
- Cachaça
- Não tem cachaça, mas tem parecido, é português, e é forte.
- putz, que forte!
- Aqui ta o dinheiro
- Náo, é por conta da casa.
- sensacional!





- Vou fazer uma especial para você. Eu vou colocar fogo, você tampa, depois bebe. Tampa novamente e bebe!
- blz


Depois do ritual


- ¡joder! To bêbado.




- Aline?
- oi?
- Onde posso conseguir um pano? Vomitei na sala.
- Vamos, eu ajudo.


10º


- Não há mais passagens pra Madrid, só amanhã.
- Eu não acredito! Então eu quero pra amanhã mesmo. Aquele filho-da-puta da outra estação me deu informção errada! Qual é o horário, por favor?
- O trem passa aqui a 00:10.


11º


- então até daqui a quatro dias em valência
- Até Valencia!



ps1: os trechos em itálico refletem pensamentos;

ps2: as falas não exatamente o que foi dito, mas refletem a realidade;

ps3: confesso que a inovação as vezes não sai do jeito que a gente queria, por isso considerem-se livres para criticar;

ps4: Até a próxima!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Trens são fixe!

No dia 9 de outubro a “Comunitat valenciana” celebra o seu dia, por isso, é feriado. Sabendo que a partir da quarta, dia 8, eu já não teria aula, pensei seriamente em viajar. Como fiquei doente no final de semana anterior quase desisti, mas eu ia ficar cinco dias completamente só em casa, não ia ser nada legal.

Contrariando meu bolso fui a “Estació Del Nord” na quarta, 8, e comprei as passagens Valencia-Madrid, Madrid-Lisboa. Eu decidi ir para Coimbra, onde Amanda está pelo PIANI. Devo dizer que viajar de trem na classe turística não é a maneira mais confortável, nem a mais rápida, mas, com certeza, é a mais divertida. No trem de ida para Madrid que partiu na quinta-feira, 9, as 17:50. Sentei ao lado de uma brasileira que vive em Valencia a cinco anos, pura coincidência. Kelly é de Recife e vive com a irmã e o cunhado espanhol. Engraçado que ela já ta na fase de falar palavras em espanhol no meio da conversa. A viagem foi bem agradável, aproveitei para tirar algumas dúvidas sobre Valencia e ela me contou as aventuras desses anos vivendo aqui. Ela está de viagem marcada para o Brasil e dessa vez vai tentar ficar em Recife.


O trem vindo de Valencia chega numa estação em Madrid chamada Portal de Atocha, aquela do atentado de 11 de março, e o trem que vai para Lisboa sai da estação de Chamartín. Por isso, eu tive que pegar o metrô. Quando esperava o metrô conheci um senhor da Galicia. Na Galicia se fala gallego, um idioma que é meio uma mistura de português e espanhol. Eu acho muito esquisito e por isso eu falava com ele em castellano e ele respondia em gallego. O mais legal foram as histórias que ele me contou. Ele disse que quando tinha 18 anos saiu da Espanha e foi tentar a sorte em outros países. Primeiro Venezuela, depois EUA e por fim Brasil.


Ele viveu por um ano no Rio Grande do Sul, em Nova Hamburgo, e disse que gostou muito. Aproveitou para falar bem de Lula e dizer que o Brasil será mais rico que a China. Porém a história que ele disse ser a mais interessante dessa temporada fora da Espanha foi no tempo em que ele vivia na Venezuela. Contou que quando estava em Caracas conheceu um alemão muito simpático, um colega de trabalho, que acabou se tornando seu amigo. O senhor gallego (não nos apresentamos, portanto não sei o nome dele nem ele o meu) disse que o alemão era um homem do nazismo que tinha fugido pra Venezuela. Segundo ele, um dia estava em casa já na Espanha e viu a foto do amigo no jornal como fugitivo nazista e ficou muito surpreso. Não fixei o nome do nazista que ele me falou, mas procurando na net descobri que era Harry Mannil (http://www.forosegundaguerra.com/viewtopic.php?p=50228). Não sei se era alemão, mas a história bate com o que ele me disse.

Já no Trem para Coimbra conheci Ana Sofia, uma portuguesa de Aveiro que tinha acabado de se formar em engenharia (esqueci qual) e que vinha desde a Itália de Trem. Ela era muito fixe (aprendi isso com ela, significa legal em Portugal) e me ajudou para que eu não perdesse a parada de Coimbra.


Voltando para Valencia, conheci uma australiana que estava pegando o trem para Barcelona, mas que na verdade iria para a Holanda, apesar de morar na Escócia. Nós estávamos meio perdidos e meio que ajudamos um ao outro. Enfim, viajar de trem é pura diversão, e caminho certo para conhecer pessoas dos quatro cantos do mundo.

Ah, e sobre Coimbra, como foi a viagem, as ladeiras, a bebedeira, convidar estranhos para minha casa enquanto estava bêbado, eu deixo para próxima. ¡Hasta ahora!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Enfermedad


Antes de tudo eu peço desculpas pela demora para escrever, mas eu estive bem doente esses dias e mereço um desconto. Pois é, faz mais de uma semana que uma crise de sinusite braba me atacou, e o ápice dessa crise foi na noite da última segunda, com febre e tudo mais.

Falando em doença, deve ser a pior coisa que pode acontecer com alguém que está viajando sozinho. Não há quem cuide de você e as coisas sempre parecem piores do que são. O que foi legal nessa doença foi “fazer amizade” com o farmacêutico (você sempre é atendido por um farmacêutico). Eu sempre compro remédio (como se eu morasse aqui há 20 anos) na farmácia que fica em frente à estação de metrô (engraçado que aqui todas as farmácias são identificadas com uma grande cruz verde de neón, de longe você sabe onde tem uma) e nas três vezes (é, só foram três) que comprei remédios lá precisei da ajuda do cara porque aqui até um simples paracetamol tem três tipos pra você escolher.

Enfim, essa doença me fez perder aula e atrasar pra escrever. Inclusive diria que continua fazendo efeito pra que eu tenha escrito um texto tão mais ou menos como esse. Espero que o próximo seja mais interessante. Daqui a pouco pego o trem pra Portugal! Vou passar três dias lá na casa de Amanda, em Coimbra. Portanto, o próximo será um post de viagem.

Até a próxima!