quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O jogo dos 7 erros europeu


Esse post é sobre os mitos que geralmente nós temos sobre a Europa. Antes de começar eu tenho de lembrar que estou num país europeu que não é exatamente o modelo de desenvolvimento do continente. E o único país que eu estive além da Espanha foi Portugal, portanto, não tenho essa autoridade toda para falar, mas como no Brasil nós costumamos colocar tudo no mesmo bolo, ai vão minhas impressões.

Sujeira na rua


Valencia é uma grande cidade, moderna, arborizada, bonita. Nas ruas há lixeiros e contêineres ecológicos por todos os lados, com separação de material para a reciclagem. Entretanto, há pessoas que jogam lixo na rua. E o pior, há fezes de cachorro para todos os lados. Tudo bem, não para todos os lados, mas numa proporção muito grande. Inclusive é um ponto muito interessante pra lembrar daqui, as pessoas dessa cidade adoram cachorros. Para redimir a cidade devo lembrar que todas as noites circulam uns carrinhos engraçados varrendo e lavando as ruas.


Violência

Bem, a cidade de Valencia, apesar de ser uma cidade de quase um milhão de habitantes, sem contar a área metropolitana, não é uma cidade violenta. Você pode andar nas ruas principais a qualquer hora do dia ou da noite sem se preocupar. Porém há guetos, ruelas e bairros que não são recomendáveis como em qualquer outra cidade do mundo. Mas se você assiste o noticiário na TV, vai ver que nem tudo são as mil maravilhas no país, e também no continente. Assaltos, seqüestros, assassinatos brutais, pedofilia, tráfico de drogas. O velho continente não está imune aos males do mundo moderno.


Desemprego

Só no mês de outubro na Espanha 200 mil pessoas perderam o emprego, a maioria no setor de serviços e indústria. A taxa de desemprego na Espanha é a maior da União Européia, todo o bloco sofre com a falta de emprego. Não é o paraíso como pensam os brasileiros.


Descaso do poder público

Todo dia vejo na TV gente indo reclamar do descaso do governo em alguma comunidade espanhola. Problemas como: ruas não asfaltadas, violência, prostituição, problemas com escolas. Enfim, apesar do comprometimento do governo ser bem maior, e as ações mais rápidas, sempre há alguma coisa que foi deixada para depois.


Pobreza

Há pobreza na Europa, mesmo que em menores proporções, ou mais camuflada. Há sim favelas, gente pedindo esmolas nas ruas, flanelinhas que te obrigam a pagar pra usar um local público, pais e mães de família que precisam da ajuda do governo para poder comer todos os dias (o que é um diferencial já que no Brasil nem isso as pessoas têm).


Preconceito

Todo mundo deve estar imaginando: Ah, essa eu sabia, preconceito contra imigrantes e tudo mais. Bem, realmente existe esse preconceito que todos já sabem. Mas há também contra outros europeus. É uma xenofobia generalizada. Os estudantes de intercâmbio na universidade são meio que isolados pelos espanhóis. Sejam eles Brasileiros, franceses, italianos ou peruanos.


Falta de conhecimento

Para quem pensa que europeu é tudo culto e informado ta muito enganado. A maioria não conhece mais do que a realidade em que vivem. Suas cidades, suas províncias, no máximo seu país. Numa aula da disciplina de Instituições Políticas Contemporâneas, para estudantes de comunicação o professor teve de explicar o que está acontecendo no Kosovo, para poder usar o "país" como exemplo. Porque uma boa parte dos estudantes não só desconheciam a atual declaração unilateral de independência do Kosovo, como também não tinham idéia do que se passa na região, nem do conflito com a sérvia, ou sobre a antiga Iugoslávia. Talvez eu possa estar sendo duro com o exemplo, mas isso é coisa que a gente aprende na escola no Brasil.


Enfim, são opiniões que fazem sentido para mim, mas pode não fazer sentido para outras pessoas que lerem. O que eu quero passar com tudo isso é que a Europa não é tão boa assim, e o Brasil não é tão mal como a gente gosta de dizer.


Até a próxima!

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que é lugar-comum pensar que a Europa é, de fato, um continente totalmente isento de todos esses problemas.
É legal também saber essas coisas, porque muita gente deseja viver na Europa achando que não vai ter que sofrer mais com nada e acaba encontrando problemas em menor proporção, mas que às vezes acabam sendo evidenciados para a pessoa, por ela ser estrangeira.

Sobre essa "falta de conhecimento" eu já tinha ouvido falar bastante. Mas acho que faz mais parte da educação básica [você que está aí poderia se embasar melhor sobre isso, eu estou apenas supondo com base em alguma coisa que ouvi por aqui]. Assim como a gente aprende que a informação manipula e forma opinião, a educação também forma pequenos patriotas ignorantes do mundo. Acho que do mesmo jeito que a gente vê a Europa perfeita, eles vêem o mundo subdesenvolvido como uma floresta cheia de macaco. Ou o país vizinho como qualquer coisa desinteressante. É uma espécie de egocentrismo enraizado na própria educação, sabe? Eu aprendi que meu país é O país e pouco me importa a guerra que aconteceu no outro.

Sei lá... tu que estuda essas coisas e agora vive também é que tem argumento pra defender alguma idéia. Eu tô só verbalizando mais um mito. :]

[Desculpa aí pelo livro... é que eu gostei da sua preocupação nesse post].

Unknown disse...

kramba, adorei teu comentário!isso me motivou, digo logo. continua escrevendo :D!

Afonso disse...

Cara, também gostei do comentário de Naíza.

Cara, leio blogs, mas comento pouco. Contudo, esse teu post me deixou bem motivado a escrever.Se tem uma coisa que admiro em você, Ramon, é o fato de você se abrir a novos conhecimentos. E, por mais que a gente discorde em algumas coisas, sei que nós mantemos um acordo de cavalheiros bem na linha de Voltaire.

Cara, tá muito legal o que tu postasse, prova que teu olhar crítico não é míope.

Continua escrevendo e curte bem o Velho mundo, que ele tem muito o que ensinar.

Abraço

Virgínia Milanesi disse...

Engraçado que muitas vezes a gente costuma atribuir essas características para os estadunidenses, pensando que a Europa é um antro de cultura e cidadania...ledo engano!
Ao meu ver (olhar de fora tb, corrija-me se estiver errada), é bem como Naíza disse. Questão de identidade nacional... gera mesmo uma ignorância.
Quanto aos problemas, é.. nem tudo são flores..e a crise tá aí!