quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


26 de Fevereiro de 2009

07:20 – Ramon sai de casa com mochila nas costas em direção ao metro. Seu destino é a Estação de trens sul de Valencia, Sant Isidre.

08:15 – Sai o Trem Regional 18161 com destino a Madrid, Ramon embarcou com antecedência e estava tranqüilo com o horário da chegada do Trem, no bilhete estava prevista a chegada para as 14:05, na Puerta de Atocha.

08:45 – Funcionário da Renfe avisa que haverá uma mudança de trem incomum. Devido a obras nas linhas, as pessoas que se dirigiam a Madrid deveriam fazer um transbordo. Ou seja, trocar de trem. O funcionário avisa que haverá um ônibus em uma determinada estação (ok, eu não lembro o nome da estação) que  levaria os passageiros para a estação de Cuenca, de onde seguiriam para Madrid em um outro trem.

11:15 – Os passageiros do Trem Regional 18161 com destino a Madrid pegam um ônibus com destino a Cuenca, onde farão o transbordo.

12:00 – já num novo trem, os passageiros do Trem Regional com destino a Madrid seguem viagem. Ramon sente que algo está errado, há muito atraso nos trajetos e teme que tenha problemas para chegar a tempo no Aeroporto de Barajas, onde deveria pegar o Voo 5444 da Ryanair com destino a Paris (Beauvais) as 16:35.

14:05 – O Trem Regional 18161, continua seguindo o seu trajeto, não há sinal de Madrid, já estava bem claro que haveria atraso, mas de quanto tempo?E em que prejudicaria o nosso herói? (Você achou isso brega? Espere até ler o final).

14:45 – O Trem Regional 18161, começa o procedimento de entrada na Puerta de Atocha. O nosso herói realmente está preocupado e percebe que as chances de perder o vôo crescem a cada minuto.

15:05 – Ramon pega o primeiro metro que o levaria ao Terminal 1 do Aeroporto de barajas, o nervosismo aumenta e cada minuto é precioso. Segundo as regras para embarque internacional o passageiro tem que fazer o check-in até 40 minutos antes do horário do voo. Isso quer dizer que o nosso herói tem até as 15:55 para chegar ao balcão da Ryanair

15:24 – Primeira troca de linha de metro, sobe escada rolante correndo, abre espaço entre a multidão a cotoveladas, passa pelo indiano tocador de guitarra no corredor, entra no próximo trem correndo que está prestes a sair de plataforma.

15:29 – Repara na gata que ta sentada bem em frente no metro, putz, ela é gata de verdade. Laça o olhar El Amante Latino, pensa que não é hora pra isso, vai perder o voo, pára de olhar.

15:45 – Última troca de linha, 10 minutos, ainda é possível, nosso herói não deixa o pessimismo tomar conta

16:06 – Ramon olha fixamente para o painel de voos, pode haver filas, ainda aparece na tela como se estivesse em check-in, há uma esperança.

16:15 – Ramon senta no primeiro banco do café que encontra. Põe a mochila em uma cadeira, o livro sobre o balcão, o papel com as informações do voo ainda estão na sua mão. Olha em volta, é um olhar perdido, meio que sem acreditar, sem saber qual será o próximo passo. A ryanair não tem outros voos no mesmo dia, não há cancelação de passagem, não há reembolso, a multa de remarcação supera os 70 euros (210 reais).

16:31 – Ligação para a Suiça:

- Alô, Fernanda?

- Ramon, oi!

- Eu perdi o voo, não vai dar mais para te encontrar em Paris

- O que? E agora?

- O sonho acabou, deu tudo errado, já era Paris. Eu tô voltando pra Valencia no próximo trem.

 

As 19:00 do mesmo dia, Ramon pegou o trem Alaris 1197 com destino a Valencia. Devido a sua maior velocidade e conforto esse trem custa o dobro do regional, o nosso herói não tinha opções. As 22:30 chegou a Estação de Valencia Nord, após um dia inteiro em trens, estações e aeroporto. Após tanta correria e ver esperanças e sonhos destruídos o nosso herói volta para casa derrotado. Com a sensação de que foi sua última aventura na Europa, e que pegar o próximo voo pro Brasil não seria mal. No caminho compra um kebab, a única coisa capaz de o deixar feliz nesse momento.

- Um Super Rock, por favor.

 

 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sweet London


Capítulo I – A temível imigração

Desde o momento em que esperava na sala de embarque do Aeroporto de Valencia já estava apreensivo. E olha que eu costumo manter a calma nessas situações de espera em aeroporto. “Durmo” nos bancos dos saguões numa boa, sem reclamações. Entretanto o caso dessa vez era distinto, pois eu estava indo a Londres.

Em primeiro lugar porque Londres era um sonho para mim. Monarquia, Inglês Britânico, prédio de 700 anos de história, estar numa cidade que foi a capital de um grande império e continua sendo a capital financeira da Europa. Mas em segundo lugar tinha o medo de ser barrado. Ai vocês me perguntam, Você não tem visto de estudante?O que lhe incomoda?O que me incomodava é que a Inglaterra rema contra a corrente da União Européia e simplesmente não faz parte Zona Schengen, que é um acordo para eliminar as fronteiras internas da União Européia e dificultar a entrada de imigração ilegal no bloco. Meu visto está dentro desta zona, ou seja, eu posso circular livremente dentro dos países da UE e até na Suíça, que não faz parte do bloco. Mas os ingleses e os irlandeses bateram o pé e não fazem parte do acordo.

Depois de ouvir histórias de pessoas sendo mandadas de volta mesmo tendo o visto da Zona Schengen era totalmente normal o meu medo. Logo no carimbo do passaporte em Valencia senti a descriminação, os não europeus tinham os nomes escritos em papeizinhos quaisquer, ou seja, eu e um indiano que ia bem à minha frente na fila, já que todo o resto o era britânico ou espanhol. Para aliviar a tensão, na porta do avião, a aeromoça que checou a minha passagem e passaporte sorriu e disse que tinha nascido em Santos, mas pelo sotaque obviamente tinha vivido toda a sua vida na Inglaterra. Isso foi bem agradável.

Depois de um vôo tranqüilo e a chegada ao vazio aeroporto de Gatwick lá estavam os guichês da imigração. Bateu aquele frio na espinha, mas vamos lá.

 - Hello sir, are you coming for business or pleasure? 

Depois disso, tudo se desenrolou da maneira mais natural possível, exceto no momento em que ele perguntou se eu viajava sozinho e estranhou o fato de um viajante que havia passado por ele antes de mim ir para o mesmo albergue. Eu gelei, mas foi só o suspense do final, tudo deu certo e eu recebi o carimbo do bem no passaporte.

 

Capítulo II – Kensal Green Station – 639, Harrow Road, London. Hostel 639

Esse foi meu endereço por agradáveis e frios quatro dias, certamente muito poucos dias, mas definitivamente intensos dias. O hostel foi algo bem agradável, conheci um brasileiro holandês muito gente boa e com ele descobri que eu tenho um forte sotaque paraibano (é incrível as coisas estúpidas que você pode se dar conta nos momentos mais interessantes).

Para falar a verdade não tem muita coisa para falar sobre o hostel, e eu vou aproveitar esse capítulo para comentar os momentos de nostalgia que bateram quando eu estava lá. O fato é enquanto eu estava lá também estavam hospedados dois grandes grupos de adolescentes. Um grupo, suponho, vinha da França, pois além de falar francês tinham um sotaque muito característico que eu aprendi a diferenciar do belga, graças a minhas coleguinhas de classe (e olha que eu não falo nada de francês). E outro de Espanhóis, ou melhor, catalães, pois só falavam esse bonito e orgulhoso idioma (no, Jo no parlo catalá, però sé quan estan parlant).

Por coincidência, ou por desgraça, meu quarto ficava ao lado do quarto de umas oito francesinhas adolescentes, e isso foi realmente desagradável. Toda noite elas ficavam com brincadeiras com os garotos, abriam e fechavam a porta com força, gritavam, corriam, a coisa parecia mais uma dança do acasalamento, que me perdoem o termo. O ponto que eu quero chegar é o seguinte: Toda vez que eu ficava puto pelo fato de não conseguir dormir lembrava que eu já tive a mesma idade e achava tudo isso um máximo. Então dava uma risada de canto de boca e tentava dormir novamente. E cinco minutos depois amaldiçoava aqueles “hijos de puta” que não me deixavam dormir! Hehe, mas tudo na maior paz. E cara, é um máximo ter 15 anos. Eu tive essa idade há apenas cinco anos atrás, mas parece que foi uma eternidade, como as coisas mudam em pouco tempo.

 

Capítulo III – Das sensações e dos momentos – Please, mind the gap

A frase em inglês que está no título é repetida a todo o momento no metro de Londres. Lembra aos viajantes que há um espaço entre o trem e a plataforma, ao qual se deve manter atento para evitar acidentes. A frase também me lembra Amanda, que foi minha companheira de viagem nos últimos dois dias e realmente admito que sem ela teria sido menos divertido, menos cansativo e menos memorável. Ela me fazia andar o dia inteiro e conhecer tudo que era possível da apaixonante Londres. Estivemos na London Eye, no madame Toussou, no Britsh Museum, enfim, junto com ela estive nos momentos mais divertidos da viagem e a agradeço por isso.

Estar na Frente do Big Ben, presenciar a troca da guarda no Palácio de Buckingham(tudo bem que só o finzinho), ver Londres do topo da London Eye, caminhar pelo Hyde Park nevado, ver a pedra da roseta de perto no Britsh Museum e atravessar a Tower Bridge foram sonhos que eu realizei. Aproveitei cada momento que eu pude da velha Londres e ficará guardado na minha memória para sempre.


Até a próxima! o/