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Demorei o máximo que pude, tentei prorrogar um pouco mais, e acho que finalmente chegou a hora, o momento do último post.
Faz quase um mês que eu voltei, e acho que esse foi o tempo suficiente para pôr minha cabeça no lugar. Confesso que ainda estou bastante confuso sobre tudo, é difícil ir para um sonho e de repente ter que voltar para a realidade, principalmente quando há aspectos dessa realidade que não lhe convém. Mas mantenho minha cabeça centrada nas melhores características dessa minha vida brasileira, e tento me concentrar em criar a oportunidade para o retorno a Europa.
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O apartamento era grande, muito grande e desde o primeiro momento que eu coloquei os pés lá senti aquele cheiro, um cheiro de madeira velha distinto de todas as outras madeiras velhas do mundo. Nos primeiros dias um odor meio incômodo, mas que com o tempo se tornou o cheiro de casa, o primeiro cheiro que eu sentia depois das viagens, algo que ansiava após dias com o pé na estrada e ficará guardado na minha memória para sempre.
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Os meus companheiros de apartamento eram duas pessoas totalmente opostas. Alejandro extremamente alegre e falante; Joaquín sempre sério e de poucas palavras; Alejandro sempre romântico, pouco ambicioso e de pensamentos simples, Joaquín ousado, contestador e de grandes idéias sobre o mundo e sua adoecida sociedade. Alejandro “tio”, Joaquín “Macho”, Ramon “Chaval”. Eu me dei muito bem com os dois, e agora é como se eu tivesse dois irmãos europeus.
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A universidade era incrível, moderna, gigante, com uma organização invejável. Ao mesmo tempo em que eu pensava na sorte que tinha por estar tendo aquela oportunidade, pensava no difícil que ia ser voltar pro Decom, com todos os problemas e todas as frustrações. Foi na universidade que conheci, belgas, francesas, italianas, suíças, peruana e espanhóis. Nada mais interessante do que conviver com culturas diferentes para poder ver o mundo com outros olhos. Mas devo dizer que uma espanhola foi especialmente marcante, Mayte. Ela é doce, simpática, prestativa, estudiosa, trabalhadora (futura workaholic), inteligente e bonita. Ah, e baixinha também, hehe. Não posso esquecer de dizer que será uma grande jornalista.
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As viagens foram um ponto decisivo no meu amadurecimento. Pegar avião, trem, ônibus; ficar hospedado dos “hostels” mais xexelentos aos mais organizados; perambular pelas ruas das maiores capitais européias com um mapa numa mão e uma câmera fotográfica na outra; comer Mcdonalds no café-da-manhã, almoço e jantar para economizar, e tudo na maior parte do tempo sozinho. O que me fez ver que muitas vezes você só pode contar consigo, e ninguém mais. E ao mesmo tempo perceber que o mundo está cheio de pessoas boas e interessantes, com muita história para contar.
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A sensação é de não pertencer a lugar nenhum, um estranho onde quer que esteja. Quando cheguei a Valencia me adaptei rapidamente, e imaginei que fosse uma nova característica que tinha acabado de descobrir. Talvez seja mesmo, mas a sensação que estou experimentando aqui, na minha cidade, no lugar que eu nasci, onde me criei e aprendi a ser o que sou hoje, é de um vazio. Não quero mais me adaptar a vida que sempre tive, quero viver no mundo, como um cidadão do mundo, viajando, trabalhando, aprendendo. Conhecendo gente nova a cada estação de trem, em cada aeroporto. O Velho eu desapareceu naquele 9 de setembro de 2008, quando eu embarquei rumo a Europa. Sobrou o novo eu, com 90% da personalidade do antigo, mas com os 10% de uma personalidade nova que vai mudar o meu futuro para sempre. Nesse momento em que as dúvidas são a realidade, minha única certeza é que aqui eu não quero ficar.